domingo, 17 de março de 2019

Profissão

Era final de 2011. Faltavam poucas semanas para o vestibular e eu ainda não sabia o que queria ser 'para o resto da minha vida'. A mãe de uma amiga disse que eu devia fazer jornalismo porque gostava de ler e escrevia bem. Achei uma boa ideia e fiz. Eu gosto ainda e acho que faz sentido pra mim até hoje no modo em que enxergo a vida, mas o mercado do jornalismo é que não faz muito sentido pra mim, principalmente nas áreas que atuei. Eram funções que não me traziam propósito.
Em abril de 2019, irei mudar a rota. Vou fazer o curso de designer de interiores. O Allan diz que levo jeito pra coisa. Eu gosto de decoração e arquitetura. Mas será que dessa vez irei sossegar?

Conflitos

Dona de casa, dependente financeiramente do companheiro, com rosto branco que não sabe o que é sol além das corridas matinais no bairro aos fones de ouvido.
Ouço minha voz e leio discursos feministas, mas quando vejo que não trabalho fora, me questiono e me sinto inferior e hipócrita. 
Amo o tempo livre que tenho para ver a minha filha crescer. Sinto privilégiada por ser a primeira a ouvir aquela palavrinha nova ou entender seu linguajar imaturo. Gosto da paz dos meus dias, de ter a possibilidade de assistir um filme numa terça-feira de manhã, ou de fazer comidas para eles. Quero que a Luna fale que não existe biscoito de polvilho mais gostoso no mundo do que o meu, assim como falo do bolo de chocolate da minha mãe.
Gosto do tempo que tenho para ler e refletir com calma. Gosto de descansar a cabeça não só a noite no travesseiro, mas nas horas vagas.
Amo ser mãe e uma referência presente na vida da minha filha, mas quero também ter participação do mundo externo. 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Dias de luta

Controlar-me por inteira quando a Luna tem atos de rebeldia faz dos meus dias batalhas de Davi e Golias. Diante do meu poder como mãe, é lógico que o papel de Golias pertence a mim, mas só posso ganhar se não derrubar o Davi e me manter em pé no mesmo movimento. Firme como um monge no ápice da paciência.
Quando estou cozinhando e, ao mesmo tempo, tenho que chamar a atenção dela pela quarta vez  (mas dezenas somando as outras)  para que não pegue o copo de vidro, e de repente ela arremessa no chão, me sinto ofendida. Minha visão embaça, minha parte racional abandona meu corpo. Meu cérebro primitivo assume o controle e acabo batendo, castigando ou berrando.
Depois, segundos depois, eu volto pro meu corpo, para aquele momento. Uma avalanche de arrependimentos,vergonhas e incertezas desaba sob mim. Como posso lidar com minha filha respeitosamente e educá-la ao mesmo tempo? Como posso ser aquela mãe que eu precisei em vários momentos da minha infância? Como posso criar um ser humano melhor do que eu? Na verdade, travo uma guerra interna, solitária, onde o oponente sou eu mesma.



terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Nova trilha

São quase dois meses vivendo sem o status 'empregada'. Pedi demissão em dezembro de 2017 de um site renomado para cuidar da minha bebê. E como estou? Muito feliz. Sinto que não me limito mais, que estou vivendo mais. Faço o que eu quero, no momento que eu quero. As únicas pessoas que presto contas pelas minhas ações agora são aquelas que estão ligadas a mim porque eu me importo com elas e não porque pagam meu salário. Isso é tão bom, tão libertador! Hoje, se eu faço algo para alguém, talvez a única moeda de troca que espero é uma pura e singela: afeição.

E não é assim que deveria ser a nossa vida?

Nesse pouco tempo em casa, já me aventurei pelos caminhos óbvios: cozinheira, lavadeira e passadeira. Mas também por aqueles que tinha vontade, mas que, dessa vez, não me auto-sabotei e fui lá e fiz. Transformei um caixote de feira em um móvel, fiz um kit higiene de cimento para o banheiro, aprendi a editar minhas fotos no Lightroom, já vou pro quarto livro lido esse ano, atualizei meu blog, e estou criando o cartão de visita do Allan no Photoshop.

Percebi nesse pouco tempo como meu exterior se modificou. Estou mais calma, mais racional, mais eu mesma. Sempre fui apaixonada por conhecimento, mas havia me esquecido disso nos últimos três anos.

Eu precisava desacelerar e refletir sobre o que eu estava fazendo com a minha vida. E as perguntas não terminaram. Tenho muito o que pensar, mudar, ouvir e aprender.