terça-feira, 9 de junho de 2015

Tio Ademir

Tenho três novos integrantes na família, mas por agora, vou apresentar apenas um. Tio Ademir está morando em casa depois de 20 anos longe da sociedade. Ele tem esquizofrenia, e era viciado em drogas. Ficou todo esse tempo em hospitais psiquiátricos.
Minha vó e meus tios o ignoram. Ela chegou a dizer que ele é a cruz da vida dela. Na verdade, quem parece e age como se fosse a mãe dele é a minha. Quando meu tio estava pra sair do hospital, minha mãe pulava de alegria enquanto minha vó gritava no outro cômodo "pra que isso, Irene?", com voz histérica.
Mas ninguém sentiu mais as ações do meu tio do que minha vó, tadinha. No auge das drogas e do transtorno mental, ele matou meu avô depois de ficar três dias amarrado em um quarto. É difícil e acho que mesmo depois desses anos, ela não conseguiu perdoá-lo.
Eu não conhecia ele e nem tinha interesse. Quando tudo aconteceu, eu era muito nova. É como se ele não existisse. Tio Ademir era apenas um personagem citado por meus pais uma vez ou outra durante o jantar.
Minha mãe o via pouco também, dizia que o hospital onde ele estava internado e cumpria pena era muito longe. Mas sempre enviava cartas junto com as caixas de bombons que meu tio regulamente pedia. Soube mais tarde que ela era a única que comunicava-se com ele.
Recentemente, ele foi transferido para um hospital psiquiátrico mais próximo de casa. Cerca de 120 km. De 15 em 15 dias, meus pais iam vê-lo, mas eu não.
Um certo dia, resolvi ir e pude finalmente conhecer meu tio. Uma outra história sobre ele, uma que eu não conhecia, foi contada pelos psicólogos para a minha família. Meu tio era doce, tímido e sempre quando ia desenhar, fazia uma casa e dizia que seria seu lar. A casa era a da minha família.
Vai fazer duas semanas que Tio Ademir está em casa. Meu pai construiu um quarto pra ele, comprou roupas novas e até um sapato social para ir à igreja.
Ele é, digamos, não muito convencional. Um homem de 40 e poucos anos que gosta de assistir desenhos e faz tudo que minha mãe pede. Por enquanto, essa é minha primeira impressão sobre ele.

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No final de 2016, meu tio foi morar em um asilo. A esquizofrenia dele é intensa e mesmo tomando remédios, ele se mostrou muito violento em casa. Outra pessoa. Meus pais já não dormiam direito e sempre andavam com medo dele. Depois de muita oração pedindo a orientação de Deus, conseguimos aposentá-lo e o transferimos para um asilo particular que fica em uma fazenda. Lá ele faz atividades todos os dias e joga futebol. Espero que esteja feliz e que fizemos a escolha certa. 

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